“O principal objetivo do Corujão é requalificar a fila”

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José Mauro del Roio Correa fala sobre a situação da saúde na região e sobre os programas adotados pela Prefeitura

A Zona Norte, bem como vários pontos da cidade, possui demandas urgentes em um assunto delicado: a saúde. Com a mudança de gestão, as coordenadorias também tiveram seus quadros alterados. Entre elas, a Coordenadoria Regional de Saúde Norte, com a nova administração de José Mauro del Roio Correa.

Especialista em reumatologia, Del Roio atuou em várias frentes na área. Iniciou a carreira na iniciativa privada, e há 31 anos está no serviço público, começando na esfera municipal e atuando em plantões, UTI e homecare.

Reunião dos Prefeitos Regionais da Zona Norte com o novo Coordenador Regional de Saúde.

Um detalhe que qualifica o novo coordenador é o conhecimento que possui da Zona Norte. Sempre atuou na região desde que entrou para o serviço público. Há 12 anos recebeu convite para ser gerente da UBS Luiz Paulo Gineco, na Vila Maria. Desde 2011, dedica-se apenas ao serviço público. Da UBS foi para a supervisão de saúde daquele bairro, além de ter atuado anteriormente em outros centros de saúde da Zona Norte, como o Hospital Cachoeirinha e unidades básicas de saúde em Freguesia do Ó e Brasilândia (Cruz das Almas e Vista Alegre).

Agora, está à frente dos trabalhos na Coordenadoria Regional. Em entrevista ao SP Norte, Del Roio falou das novas ações e medidas tomadas na nova gestão, além de comentar os principais pontos de medidas implantadas pela Prefeitura. Confira abaixo os principais pontos da entrevista.

Corujão da Saúde na Zona Norte

Tem que deixar claro que o principal objetivo, apesar de ser dito que é a redução da fila de espera, o principal de fato é a requalificação da fila. Avaliar o que está sendo pedido, por quem está sendo pedido e por quê.

Se requalificar, ou seja, se der uma instrução mais qualificada para o solicitante pedir o exame, possivelmente menos profissionais vão pedir um exame inadequado. E aqueles exames vão ser vistos e solicitados pelo profissional correto. Setenta por cento dos exames vem normal, o resultado é normal. Isso é um percentual muito alto, quando você compara com instituições privadas.

foto: Leon Rodrigues/SECOM

O outro aspecto é que 80% dos exames alterados, quando chega o resultado e o exame está alterado, 80% não é tratado pelo médico que solicitou. Normalmente aquele médico não é especialista naquela área. Se ele não é especialista, não está suficientemente qualificado.

[Na Zona Norte] tivemos o CIES [Centro de Integração de Educação e Saúde] e o FIDI. São redes credenciadas, que ofertaram principalmente ultrassom e uma carga de tomografias [foram agendados, até este mês, 2.396 exames na Zona Norte].

É um projeto autolimitado. Ele tem data de início e de fim: dia 10 de janeiro e dia 10 de abril [respectivamente]. Vai durar exatamente esse período. É permitir que a partir de abril só peça o exame quem realmente souber o que está pedindo, e para quem realmente está de fato necessitando. Quando oferta um exame, tem que dar a garantia para o paciente do retorno.

Dengue e febre amarela

O foco principal é a febre amarela. De fato, já tivemos sete óbitos [no estado de São Paulo, de pessoas] que vieram de Minas [seis] e do interior de São Paulo [uma].

Tem um caso na Zona Norte, na Brasilândia, que veio de Minas. Mas esse não veio a óbito, está sendo investigado, em observação. Existe um temor de que possa aumentar a febre amarela depois do carnaval, por causa do trânsito de viagem.

Os números são atualizados diariamente. Mas a dengue, até o presente, teve 197 casos no município, que é considerado historicamente baixo. Isso é pouco. Só que o pico da dengue é em abril. De qualquer maneira, existe uma curva histórica. Pela curva passada, é baixo. [A Zona Norte possui 15 casos da doença confirmados].

Hospitais problemáticos

Hoje (20/2) vou ter uma reunião com os prefeitos regionais. Nessa reunião, estou trazendo para cada um deles os problemas nos quais pretendo atuar mais incisivamente. Aqui na região temos a reestruturação do São Luiz Gonzaga, o pronto-socorro de Santana; a transferência do CAPS Infantil na Vila Maria, para um espaço próprio em frente à Prefeitura Regional, a finalização de duas UPAs em Pirituba e da UBS Interativa; a reforma do Centro de Saúde do Trabalhador e do Centro DST/AIDS na Freguesia do Ó; a necessidade imperiosa de termos uma unidade de saúde na região do Futuro Melhor, na Casa Verde, no Jardim Peri Alto.

Em relação à IABAS, estamos avaliando o comportamento da OS no território. São quatro OS na Zona Norte. A SPDM, que cuida de Pirituba e Perus, e a da Vila Maria; a Associação de Saúde da Família, na Freguesia, Brasilândia e Casa Verde; e a IABAS. O Vermelhinho é gerenciado pela SPDM e vai ter um chamamento para uma renovação de OS.

O Dr. Pollara [Wilson Pollara, Secretário de Saúde] pediu para ser reavaliada a concepção [do Hospital da Brasilândia] deixada pelo Padilha, porque era um hospital muito caro, mas sem abrir mão dos 250 leitos e da qualidade.

Primeiros passos

Eles me deram bastante liberdade para propor a construção de um modelo de saúde observando as equidades do território, que é um princípio norteador do SUS, que tem que tratar diferente os diferentes.

Esse modelo leva em conta dois aspectos: os indicadores de saúde e trabalhar na priorização de necessidades dos territórios. Eu tenho desde uma unidade que o anexo pode cair, que é a do Lauzane Paulista, até unidades que vão ser inauguradas, como a unidade interativa em Pirituba, uma unidade modelo.

Eu quero pegar tudo o que teve de bom na gestão do Haddad e aprimorar. Pegar o que teve de bom do Kassab, da Marta, e por aí vai. A ideia não é desconsiderar algo que foi criado e que teve qualidade ou retorno com a população. Eu estava na gestão anterior, conheço, sabemos os avanços e vamos manter.

A única instrução que o Dr. Pollara deu é que ele quer um sistema mais simplificado. Ele quer seis aparelhos básicos: UBS, rua e atendimento de urgência e emergência – que são os prontos-socorros – especialidades e três tipos de hospital: estruturante, estratégico e de apoio.

Gestão anterior

Coisas que foram boas: as articulações com controle social. Isso é uma marca da gestão do Haddad que nós não vamos abrir mão. Eu faço reuniões periódicas com os representantes dos conselhos gestores, e o Dr. Pollara deu essa instrução que nenhuma decisão seja tomada sem a anuência do conselho gestor. O que não vale mais a pena, talvez, é essa fragmentação.

Parceria com prefeituras regionais

A minha ideia é passar para eles quais são as priorizações que eu vou trabalhar em cada território e pedir a ajuda deles, pois [os regionais] têm contato direto com o Prefeito. É uma construção de forças. O meu papel maior é dar as priorizações e sensibilizar os atores, porque não sou eu que vou garantir, não sou eu que tenho o controle do dinheiro. Por exemplo, o da Casa Verde, do Futuro Melhor. O Prefeito Regional [Paulo Cahim] já está sensibilizado para ter uma unidade móvel lá, o Secretário de Saúde já sabe quem pode construir essa unidade móvel, mas vai ser necessária uma liberação de recurso para isso. É trabalhar dentro da lógica de parceria. A ideia é trabalhar na integração.