Marcos Cintra | Chave para o desenvolvimento

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A ciência, a tecnologia e a inovação são instrumentos fundamentais para o desenvolvimento, o crescimento econômico, a geração de emprego e renda, a democratização de oportunidades, e mesmo a manutenção da soberania de uma nação. Além disso, determinarão o modo de vida da sociedade futura.

Essa é uma questão de Estado, que ultrapassa ideologias ou governos. O papel da inovação como motor do crescimento e como explicação relevante para as diferenças nas taxas de crescimento e nos níveis de renda entre os países está definitivamente estabelecido na literatura especializada, agindo principalmente por intermédio dos seguintes canais:

  • Empresas inovadoras crescem mais aceleradamente, tanto em termos de faturamento quanto de geração de empregos, e oferecem postos de trabalho de melhor qualidade;
  • A inovação tecnológica e os gastos em pesquisa e desenvolvimento (P&D) aumentam as chances de a empresa ingressar no mercado internacional, e ampliam o volume de exportações e a integração nas cadeias globais de produção;
  • A inovação tecnológica aumenta a competitividade e permite a obtenção de margens de lucro superiores.

Vários países, a exemplo de Estados Unidos, China, Coreia e Israel, têm colocado a inovação como eixo central de suas estratégias de retomada do crescimento após a crise de 2008.

Como exemplo dessa tendência, vale lembrar o caso da indústria 4.0, reconhecida como a quarta revolução industrial. Estados Unidos e Alemanha têm liderado essas tecnologias, com forte interação entre centros de pesquisa e setor produtivo, com grande apoio e liderança de seus governos.

Esse novo paradigma já vem influenciando fortemente a dinâmica das cadeias globais de valor, com fortes impactos econômicos e sociais. Fábricas automatizadas e robotizadas demandam cada vez menos mão de obra. Dessa forma, a produção com tecnologia avançada se direciona para os países com melhor formação de mão de obra, deixando de ser atraída pelos baixos custos do trabalho. A Nike, por exemplo, cuja produção está quase totalmente direcionada à Ásia, recentemente montou uma fábrica nos Estados Unidos com a utilização desses conceitos. Outras empresas, como Apple e GE, estão retornando aos Estados Unidos por conta dessas tecnologias.

O Brasil deve colocar a Ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I) em um nível de prioridade como a educação e a saúde. Sem investimentos nessas áreas perderemos a corrida tecnológica, e consequentemente nossa posição em setores como o aeronáutico, o agronegócio e o automobilístico, além de outras tecnologias promissoras, como bio e nanotecnologia, medicina personalizada, telemedicina, energia renovável e economia criativa, que são exemplos das principais tendências mundiais.

Um tratamento não prioritário à CT&I nacional significaria andar na contramão das tendências dos principais países, e pior, arriscar jogar fora parte dos investimentos já realizados na constituição de modernas infraestruturas de pesquisa, e de grupos e redes de pesquisa, uma vez que esses investimentos, por serem dinâmicos, ao se verem freados ou mesmo paralisados, não serão retomados de modo eficaz.


marcos-cintraDoutor em Economia pela Universidade Harvard, professor titular de Economia na FGV. Foi deputado federal (1999-2003) e autor do projeto do Imposto único. É Presidente da Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP).
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