João Doria é eleito prefeito no primeiro turno; votos brancos, nulos e abstenções alcançam recorde

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::: Bruno Viterbo

Pela primeira vez na história da capital, um candidato foi eleito no primeiro turno. João Doria (PSDB) alcançou 53,3% e desbancou os concorrentes. Com 3.085.187 de votos, Doria elegeu-se diante de um quadro de desalento em relação à política – que ele mesmo fez questão de exaltar em sua campanha (“não sou político, sou um gestor”).

Esse quadro é mais visível em relação ao elevado número de votos nulos, brancos e abstenções. Somados, esse contingente alcançou 3.096.304 de eleitores – pouco mais que o atingido pelo candidato tucano.

A quantidade de votos nulos e brancos é recorde. Abstenções representaram 21,84% (aproximadamente 1,9 milhão de eleitores); brancos alcançaram 5,29% (367.471 votos); nulos tiveram um percentual de 11,35% (788 mil). No Brasil, a situação foi a mesma: uma abstenção de 17,58% em todo o território.

Além da negação da política por parte dos eleitores paulistanos, o PT foi o maior derrotado não somente em São Paulo, mas em todo o país. O desgaste sofrido ao longo dos anos fez com que o partido apequenasse: foram 4% do total de prefeituras em todo o Brasil, ante 11,5% em 2012.

Em São Paulo, o atual Prefeito Fernando Haddad conseguiu alcançar o segundo lugar – uma virada na reta final, quando aparecia em quarto lugar nas pesquisas – com 16,7% dos votos (967.190). Haddad não ganhou em nenhuma zona eleitoral da cidade, nem mesmo na periferia, reduto histórico do PT. Foi a pior votação do partido na capital em toda a história.

A explicação para a derrota petista, além dos problemas enfrentados pelo partido nos últimos anos, é creditada à falta de presença de Haddad nessas regiões. Ao priorizar a mobilidade urbana – que, de certa forma, amenizou problemas da capital nessa área – deixou de lado outras tão ou mais importantes prioridades, como a saúde – esta, uma área que inspira cuidados e que nenhum prefeito consegue resolver de maneira efetiva.

Sem o voto de confiança das áreas mais distantes do centro, Haddad conseguiu votos importantes em zonas tradicionalmente tucanas. Conseguiu 24,5% dos votos em Pinheiros – nesta região, Doria alcançou 61,9%. O menor percentual de Haddad foi na Zona Norte: Vila Maria (11,9%) e Vila Sabrina (12,4%).

Por outro lado, João Doria venceu em praticamente todas as Zonas Eleitorais – perdeu duas, para Marta (PMDB): Parelheiros e Grajaú. No restante da capital, Doria obteve vitórias expressivas, como em Indianápolis (73,8%) e Jardim Paulista (71,7%).

O tucano, no discurso da vitória, “lançou” o atual governador Geraldo Alckmin à disputa da presidência em 2018 pelo partido. Alckmin foi um dos fiadores de Doria para a campanha municipal, batendo de frente com quadros históricos do PSDB, como José Serra e Fernando Henrique Cardoso.

Tanto Doria quanto Haddad beneficiaram-se do voto útil. Enquanto o eleito conseguiu angariar eleitores descrentes da política pura, Haddad “pegou” votos da esquerda, representada por Luiza Erundina (PSOL) – que alcançou 3,2%.

Marta, com forte presença nas regiões periféricas, também viu seu contingente cair nas últimas pesquisas e Haddad receber parte de seus eleitores – o PT, historicamente, é forte nas periferias, em uma época que Marta ainda era Suplicy e ainda era do PT. A candidata ficou em quarto lugar, com 10,1% dos votos – em queda desde o início das pesquisas.

A candidata, que migrou do PT para o PMDB – do atual presidente Michel Temer – não conseguiu conquistar o eleitorado, mesmo o saudoso de sua gestão no início dos anos 2000. A candidata titubeou em relação às questões nacionais tratadas pelo governo Temer, e não conseguiu consolidar um discurso – ao contrário de Doria (“não sou político, sou um gestor”) e Haddad por obviedade de ser o atual prefeito.

Celso Russomanno vive novamente o fantasma em eleições para cargos executivos. Apesar de iniciar disparado em pesquisas de opinião, o candidato – atualmente deputado federal – acaba por ficar fora do segundo turno pela segunda vez seguida – ficou em terceiro, com 13,6%. Sem tempo de campanha em rádio e TV como os outros candidatos, Russomanno sucumbiu e seguirá com o mandato de deputado até o final 2019.